Era uma vez, onde foi? Onde não foi?

Com estas palavras mágicas abrimos um baú que guarda um grande tesouro da humanidade: imagens, símbolos e alegorias que traduzem percepções e vivências do homem em tempos remotos, quando sua constituição permitia um relacionamento direto com seres e fenômenos da natureza. “Nos tempos em que desejar se tornava realidade…” A partir desse estágio de percepção tecemos o Currículo de História das Escolas Waldorf, desde o período pré-escolar até o ensino médio. Esse tecido de fios sutis, inicialmente, resultará em trama fortalecedora capaz de resistir às diversas crises, transições e momentos de decisões que marcam a história do indivíduo.

Até os sete anos a criança recebe através dos contos de fadas o alimento e a linguagem adequados à sua condição de ser unido ao ambiente e às suas origens.

Aos oito anos, as belas lendas de santos, como as passagens dos milagres de São Francisco, contrastam com as fábulas; forças animalescas são subjugadas pela força do Eu. A criança vislumbra nas histórias a força interna capaz de sobrepor-se aos impulsos, reações e sensações do seu ânimo.

Com nove anos a criança chega à compreensão da criação do mundo segundo o Antigo Testamento. Reconhece o poder dos guias dos povos e as consequências da obediência ou desacato a Deus através das imagens dos grandes acontecimentos como o dilúvio e a passagem pelo Mar Morto.

Aos dez anos, o portal que unia a criança mais ao céu do que à terra é transposto. Os deuses falíveis e vulneráveis dos mitos nórdicos refletem os sentimentos de separação e solidão que visitam a criança nesta fase.

Onze anos. Agora o fio chega à mais remota antiguidade: egípcios, hindus, persas e gregos passeiam pela escola através das vivências e pesquisas dos alunos sobre os costumes e conhecimentos de cada uma destas civilizações.

No sexto ano, o adolescente de doze anos vivencia uma polaridade interna, traduzida em duas épocas históricas. Roma representa o poder e as leis do homem, e a Idade Média, submissão e fé às leis de Deus.

Aos treze anos, as grandes navegações e o desenvolvimento científico do período renascentista deixam uma profunda impressão no aluno do sétimo ano.

No oitavo ano, a invenção da máquina a vapor e as consequentes transformações sociais e as duas grandes guerras são apenas alguns dos acontecimentos que levam os alunos a um pleno conhecimento da história contemporânea. Encerra-se um ciclo no desenvolvimento da criança e uma etapa na vida escolar. A imagem global da história da humanidade é coroada com a chegada aos grandes feitos dos nossos dias.

Assim encerra-se a trama dos conteúdos específicos a cada estágio de consciência no desenvolvimento humano: o estado de união com as forças cósmicas vivenciado pela criança até os sete anos através dos contos de fadas, a vivência onírica das imagens de lendas e mitos a partir dos oito anos e a gradativa conquista até os catorze anos da consciência vígil, capaz de lidar com os fatos históricos no tempo e no espaço atuais.

Texto de Rosa Fantini

Contribuição: Cecília Bonna