O jardim de infância na escola Waldorf é um lugar onde e a criança experimenta sua autonomia. Desde que ela chega, ela reconhece o lugar dos seus sapatos, suas pantufas, onde pendurar sua mochila e casaco e sua agenda diária e cumprimenta a professora.

Os que chegam cedo preparam a sala para a atividade e o lanche do dia, arrumando a mesa, pegando os papéis para todos, as cestinhas com os gizes feitos com ceras de abelha naturalmente pigmentados, e se tiverem faltando ou repetido, distribuem cada qual com um conjunto de seis cores para cada cestinha. Outros, juntos com a professora pegam as frutas e legumes do dia para lavarem e picarem se necessário.

Assim que desenham, entregam para a professora, guardam sua cestinha e partem para o brincar espontâneo dentro da sala.

Olham para um canto da sala e a partir de então, brota de dentro a vontade de brincar e criar uma história ou experimentar um movimento. São cavaletes arrastados, panos cobrindo e formando casas, castelos, restaurantes, salões de beleza, veterinário, nave espacial, etc. Tem uma boneca passando frio, e precisa de um casaco…, daí chega outro e entra e cuida da outra boneca que está passando calor e precisa trocar a calça para um vestido. As sementes e pedras viram comidas deliciosas, uns passam pela professora e perguntam se ela quer algo do cardápio. Outros estão rodopiando o balanço dentro da sala e mergulhados no simples movimento enquanto outros estão montando um prédio ao empilhar os bancos. O prédio vira um lugar para saltar de muito alto. Um cordão é amarrado na cintura com uma extensão atrás e vira um rabo! Com esse rabo, o gato engatinha pela sala, salta na mesa, pede carinho para a professora e ronrona. Depois de um tempo a professora cantarola: “Blin, blon!!! A casinha vamos arrumar…”  e o caos começa a se transformar, uns pegam os panos e em duplas cantam ao juntarem as pontinhas e dobram simetricamente os panos, outros colocam as mesas no lugar e os bancos. As sementes são separadas pelo tipo por cestinha, a cesta de tocos que havia virado um chapéu agora se enche de diversos tocos e é carregada com todo esforço para seu lugar na estante. Nesse momento, recebem chuvas de ouro cantados pela voz da professora, e realmente brilham! E a sala volta a ficar organizada como quando ela chegou de casa.

 

A roda começa a se formar, uma criança dando as mãos para outra e uma brincadeira com os amigos começa, conduzida pela professora, com uma canção ou poesia que conta uma história onde todos são os personagens. Uma brincadeira alegre, desafiante quando um é chamado para fazer algo. A criança se realiza e ao finalizar com uma calmaria, uma a uma vai ao banheiro, lava as mãos e se organiza em seu lugar na mesa de refeição coletiva. 

Quando todos já estão sentados, iniciamos o verso para agradecer pelo alimento que recebemos, aquele que alguns já haviam preparado (o cereal do dia bem cozido e uma fruta limpa e cortada) no momento em que outros pela manhã brincavam livremente.

A professora escolhe dois ajudantes para cada lado da mesa, e esses servirão os amigos. Eles o fazem com muito orgulho e perguntam detalhes do pedido. Por último eles são servidos e conforme vão terminando suas refeições, cada um leva sua tigelinha e sua canequinha para ser lavada na cozinha, arruma seu banquinho no centro da sala, formando uma roda de banquinhos e ajuda a varrer a sala e preparar para a saída para o pátio.

No pátio agora pode-se ficar descalço, livre para correr, pular, brincar na areia, pegar sementes, folhas, flores caídas ao chão para fazer comidinha na panela. Pegar água e pisar na terra, com a corda fazer um elevador no brinquedão, depois pular a corda, passar por baixo dela até que tenha que rastejar…, nos dias de muito calor, tomam banho de esguicho e é uma alegria poder brincar na água e se refrescar, a risada corre solta, gira, gira, gira…, outros estão escalando a árvore para que possam olhar lá do alto.

 

Novamente a professora cantarola: – “Blim, Blom! A casinha vamos arrumaar…” e recolhemos todas as panelinhas, pás, pernas de pau, cordas…, lavamos o que está com lama, colocamos em suas “casinhas” e assim com a professora olha uma a uma para entrar na sala que está uma penumbra e pergunta se estão com “sapatinhos de veludo”, que significa pisar com muita delicadeza e com calma para aquele ambiente tão aconchegante com um pequeno altar com pedras, flores e uma vela, a fadinha do fogo. Brincamos com os dedinhos para que consigamos aquietar os movimentos grandes para olhar para o pequeno até chegar a um silêncio, como o de dentro de um templo, pois tudo agora é sagrado. A vela é acesa por uma criança grande, que já é corajosa e consegue acender sem se queimar. A professora inicia um momento mágico que é o Conto de Fadas, com uma introdução de Kântele (um instrumento semelhante a uma lira em escala pentatônica) e começamos a mergulhar no mundo de um sonho e ao terminar fazemos o verso de agradecimento e de amor e a manha termina com uma canção de despedida para o dia seguinte. Um ajudante avisa a chegada do pai ou mãe ou avós, e a criança em silencio abraça a professora e sai preenchida de um calor muito especial. Assim é um dia no jardim de infância na escola Waldorf.